Os dados divulgados pela Rede da Pegada Global (Global Footprint Network - http://www.footprintnetwork.org) nos mostra que, em 2011, nós precisamos de 170% da Terra para atender as demandas humanas. Isso significa que durante um ano consumimos recursos em uma velocidade tal que precisaríamos de quase 2 planetas para produzir o que utilizamos.
E este número vêm crescendo ano a ano. A questão da sustentabilidade ambiental se torna óbvia com essa situação, já que se continuarmos neste ritmo, logo não teremos mais recursos suficientes para nos sustentar e manter a vida no planeta.
Mas a questão é mais profunda. O que esses dados alarmantes estão dizendo sobre nós?
As pessoas criaram uma consciência do descartável. Arranhou? Quebrou? Não é o último da linha? Não tem problema, compro outro. O artista Chris Jordan, citado em outro post deste blog em março de 2011, criou fotos impressionantes das montanhas de lixo que estamos criando no planeta (a foto abaixo é um exemplo com celulares que viram lixo ano-a-ano).
Mas o problema começa já bem cedo. Pesquisas recentes mostram que a grande maioria do consumo começa com os pedidos das crianças aos pais por causa da publicidade nas TVs e outras mídias.
Conversando com grupos diferentes de amigos por todos os lados, surge sempre o mesmo, que tenho certeza você também já ouviu.
É muito comum vermos em nossa própria família ou ouvir dos amigos sobre como as crianças estão cada vez mais exigentes e frequentes nos pedidos de brinquedos, acessórios e equipamentos de tecnologia. Aniversários são o auge do absurdo, onde montanhas de presentes se acumulam e as crianças abrem cada um já pensando o que será o próximo. Resultado, o valor dado ao que se recebe perde-se no mar de entulhos. Sem falar na riqueza da infância que está cada dia mais distante da realidade das crianças. No duro dia-a-dia, os pais acabam vencidos pelo cansaço e trocando qualquer coisa por um pouco de paz.
Porém, o Instituto Alana nos alerta:
“Até doze anos, as crianças não possuem a capacidade para compreender o caráter persuasivo das mensagens publicitárias que as atingem diariamente nos meios de comunicação. O resultado disso são os altos índices de violência na juventude, obesidade infantil, erotização precoce, estresse familiar e tantos outros problemas.”
Por que temos tanta necessidade de ter coisas? De comprar o modelo mais moderno? De ter todas as cores e texturas da estação?
Essa montanha de coisas externas dispersa a atenção e esconde aquilo que está dentro de nós: nosso vazio interno. Há tanto tempo que nos esquecemos de olhar para dentro que suprimos nossas carências com coisas que nunca nos satisfazem porque ao adquirir o último notebook, ele já estará obsoleto e já estaremos pensando em como comprar o próximo.
Se tivéssemos mais união e relacionamento humano, mais rituais e conteúdo, talvez precisássemos consumir menos. O mundo está carente de humanidade. As pessoas são mais amigas dos equipamentos que do seu vizinho.
Claro que a tecnologia é importante, os objetos são importantes. Eu, como designer, mais que ninguém os defendo. Mas não podemos nos esquecer que eles são apenas ferramentas para nos auxiliar a viver com mais dignidade, criatividade e conforto e não a essência sobre a qual devemos nos voltar virando as costas para o que nos é mais caro: os seres humanos, os sistemas de vida e o meio ambiente sem os quais, estes sim, não podemos nem viver nem ser felizes.