segunda-feira, 7 de julho de 2014

Entrevista com a atriz Carol Piscitelli

Em nossa segunda entrevista para o blog, conversamos com Carol Piscitelli, atriz, artista, mãe de família e uma pessoa muito humana. Boa leitura!

1. Carol, você é uma dessas pessoas que tem mil atividades, cuida de dois filhos, trabalha e, não importa o que aconteça, está sempre com esse sorriso no rosto, transmitindo alegria e ânimo para todos à sua volta. O que lhe alimenta com tanta boa energia para manter esse ritmo?

Na verdade acredito que todos nós temos altos e baixos, momentos mais tristes e outros alegres, mas aprendi ao longo do tempo a não entrar no modo “curtir fossa” por muito tempo. Todos temos fases muito difíceis, mas o sorriso alimenta não só a nós mas tudo o que está a nossa volta, e essa energia tem uma propagação e um retorno.



2. Além de atriz, você já participou de muitos projetos sociais e de ajuda ao próximo. Trabalha em diversos projetos como palhaça, como no projeto de Patch Adams, pelo prazer de alegrar. Você pode nos contar um pouco desta experiência? O que você sente ao fazer este trabalho? Você acha que mudou sua forma de perceber a vida?

Faço palhaça por puro prazer. Inicialmente fiz um curso de Clown com o Marcio Ballas (que na época era do Doutores da Alegria) para complementar meu currículo de atriz. Fiz alguns eventos na época, mas nunca tinha tido a pretensão de ir para hospitais, e coisas assim. Hoje é diferente. Meu filho quando nasceu ficou muito tempo na UTI, e percebi, estando lá dentro o quão necessário é a presença de um estímulo lúdico para quem vive aquela realidade no dia a dia. Assim que ele teve alta e saiu de lá eu me arrisquei a entrar de palhaça e foi simplesmente maravilhoso. Assim comecei a ir esporadicamente à alguns hospitais, asilos e Associações.

Na Associação Síndrome do Amor, que é o lugar o qual realmente me sinto parte faço esse trabalho com um pouco mais de regularidade, mas não só como palhaça. Ora canto, ora faço palhaça, ora simples animadora. A Marília Castelo Branco, presidente da Associação, me chama de “Mãe sorriso” e “Artista Amorosa” (Amorosos são todos os voluntários da ASDA).  Essa associação tem um trabalho lindo e necessário, dando apoio a famílias de crianças com síndromes graves e severas, mesmo antes do nascimento, pois muitas síndromes genéticas são investigadas no Pré Natal.



Pra mim estar palhaça, completamente presente e ligada com todas as qualidades ridículas que todos possuímos mas tentamos esconder, é uma terapia intensiva e única. Fazer isso e ainda trazer o sorriso para o rosto das pessoas é uma experiência que só vivendo para compreender!

Percebo também que o palhaço bem executado, tem um efeito muito eficaz em campanhas de conscientização. No dia do Autista em 2013 fui convidada para fazer uma ação em um farol na área nobre aqui de Ribeirão, e dificilmente as pessoas que dirigiam seus veículos não abriam o vidro para ouvir o que tínhamos para falar. É o carisma do palhaço! (gostaria de deixar claro aqui que ser palhaço não é vestir o Nariz vermelho e uma roupa de fantasia e sair por aí. A arte do palhaço vai muito, muito além de um nariz).



3. Além deste, você trabalhou para o Projeto Trânsito Bom, da escola Ana Gabarra, entrando em cena como uma palhaça para conscientizar as pessoas sobre a importância da vaga para deficientes. Você pode nos contar um pouco sobre essa experiência? O que motivou essa atuação? Se quiser, fique à vontade para contar um pouco mais sobre seu trabalho e outras atividades que exerce.

Bom, o palhaço tem uma abertura maior com as pessoas, é como o bobo da corte que fala as verdades sem medo de ser punido. Sendo assim o palhaço tem a liberdade de apontar as falhas mesmo porque é cheio delas! Uma palhaça vestida de guarda em frente a uma escola, onde a vaga de deficiente assim como a da van escolar nunca é respeitada foi um modo de alertar e conscientizar as pessoas. 

Me incomodava muito o fato de, sabendo que existem na escola 3 crianças cadeirantes, que aquela vaga nunca estivesse desocupada. Então a Luciana De Siqueira Zamboni (diretora da escola) me chamou para criarmos essa ação que eu topei de imediato! O feed back dos próprios pais foi incrível. Teve uma mãe que me falou: “Sempre parei nessa vaga aí bem na frente da escola, mas te juro que nunca mais farei isso”! Mas cá entre nós (rs, e os leitores) eu na verdade tive em alguns momentos uma dificuldade enorme ao me deparar com pessoas que realmente discutiram comigo, bateram boca abertamente em frente de um monte de pais da escola, pois se acham no direito de ocupar sim uma vaga reservada para uma pessoa especial.

Meu filho tem Paralisia Cerebral, hoje ele tem quase 3 aninhos,  e perceber que existe uma parte da população que realmente não tem o menor respeito em relação ao deficiente, isso me deixou mals... Teve sim um momento que me retirei e fui chorar escondidinha no banheiro. Foi a primeira vez que me deparei com a realidade que meu filho iria enfrentar.

4. O que você sugeriria como atitude ou ação que contribuísse para construirmos uma sociedade mais sustentável e humana, que respeite o próximo e nos torne conscientes de que não estamos separados uns dos outros, mas que a felicidade de cada um depende da felicidade da sociedade da qual fazemos parte?

Nossa... eu poderia falar e falar de mil coisas aqui mas vou usar apenas duas palavras que acho essenciais e hoje em dia estão fora da prática:

COMPAIXÃO – perceber que há um “outro”, com sentimentos e dificuldades seja lá quem ele for. Nossa sociedade está com uma doença grave. Falo brincando que é a síndrome do “Umbigo Grande”. As pessoas tendem a ver apenas seus problemas, suas qualidades, suas metas, suas necessidades. O outro não é percebido. Dentro disso o desrespeito tende a crescer e crescer.

Quando o indivíduo percebe que existe um outro diferente dele mas tão importante quanto ele, com necessidades, sentimentos e paixões, quando você se coloca no lugar desse outro, descobre-se a COMPAIXÃO. Esse é um sentimento que deveria ser ensinado nas escolas. E ouvi dizer em um TEDx que sim, existem lugares ensinando a compaixão em aula, onde um bebê frágil entra em cena e os alunos entram em contato com esse sentimento percebendo a fragilidade e encanto que um bebê gera.


DEVER – O dia que os pais ensinarem para seus filhos o que é o DEVER, tudo estará melhor. Se cada um fizesse a parte que lhe cabe, isso amenizaria 99% dos problemas do mundo. Começando no básico: Limpar a sujeira que se fez, usar a água que é necessária apenas, não desperdiçar alimentos, fazer os deveres da escola, respeitar os colegas e suas diferenças, e assim vai. Vejo que as crianças só fazem seu dever se houver uma recompensa, um presentinho. Quantos pais não dão viagem quando o filho passa de ano! “Se você passar de ano vai pra Disney!”, Essa barganha está se tornando um grande mal, apesar de parecer algo inofensivo.

5. O que o termo “Sustentabilidade de Vida” diz para você?

Nossa... Um termo forte e cheio de significado. Acredito que estamos vivendo um momento evolutivo um tanto conturbado. Os valores pesam mais de um lado da balança que do outro. Emoções trocadas facilmente pelo bem material, mas sentimentos não são substituíveis. Acho que sustentabilidade de vida seria o encontro do equilíbrio de várias coisas essenciais:
Cultura, lazer, informação, corpo, saúde, bem estar, alimentação, exercício físico, família, relações humanas, trabalho, contato com a natureza, emoções (ufa!).

É tanta coisa, né? As vezes a balança pesa mais pra lá do que pra cá. O que não pode é um lado pesar sempre mais que o outro... penso. Tarefa difícil no mundo de hoje com todas as coisas que nos deparamos que somos obrigados a fazer devido a tantas obrigações. São os “tem que”. E essas obrigações não são os deveres. São coisas que nos sentimos obrigados a fazer porque todo mundo faz.

Só pra finalizar, tem uma outra campanha muito bacana que me chamaram para participar que chama Doe Sentimentos. Nessa campanha corações (simples corações feitos de papel, ou material reciclado) são distribuídos. Uma ação apenas para propagar a gentileza!

Nesse sábado fizemos aqui em Ribeirão a ação de distribuição, foi quando percebi o quão grandioso é esse projeto! Distribuindo pequenos corações percebemos como as pessoas andam carentes, e como ganhar algo de um estranho é tão inusitado que transforma o dia de alguém. Vale a pena conhecer! http://www.doesentimentos.com/