Mesmo nas coisas aparentemente mais simples, nossa falta de discernimento é visível. Por exemplo, ao lavarmos nossas louças, nossas roupas, nossos corpos, cabelos, e assim por diante, procuramos produtos que fazem a maior quantidade de espuma possível, acreditando que, quanto mais espuma, mais limpo ficará o que estamos lavando. Mas, na verdade, quanto mais espuma, mais química existe e, portanto, mais agressivo será e mais poluída ficará a água que devolvemos ao meio ambiente. Assim, todos os dias, vamos sujando nosso bem mais precioso, a água, que já mostra sintomas graves de escassez e qualidade.
A partir da teoria da evolução proposta por Darwin, criamos uma sociedade baseada na lei do mais forte, mas até mesmo ele a reconhecida como uma regra parcial dentro das leis da natureza. Assumimos isto como verdade e toda a nossa civilização sobrevive crendo que devemos crescer à custa dos demais. Se eu sou mais forte que meu vizinho, se tenho vantagens sobre ele, terei mais chances na vida. Porém toda a Biologia e a Ciência atual estão mostrando que esta característica é apenas uma exceção. A regra é a lei da colaboração. Todos os seres vivem em colaboração e harmonia, contribuindo para que, juntos, o processo evolutivo continue vivo, gerando sempre novas etapas de forma criativa e cocriadas.
Fomos levados a acreditar, com a Era da Razão, que só é possível conhecer a verdade através do intelecto e das ciências exatas. Todo o nosso sistema educativo está baseado nisso. Nossas teses, nossos relatórios, o conhecimento em nossas escolas, nossas leis são todos transmitidos através da linguagem verbal, a única que pode ser considerada científica e capaz de ser fiel a realidade absoluta. Mas o que é verdade absoluta?
Deixamos para trás as imagens, os sons, os outros sentidos que estão ressurgindo, como um respiro, em grande parte pela revolução da internet. O ano passado vimos a primeira tese de doutorado em educação ser apresentada em forma de história em quadrinhos na Universidade de Columbia. O estudo trata da importância do pensamento visual no ensino. Nós não podemos perceber e conhecer o mundo apenas através da linguagem verbal. Apesar de parecer óbvio, essa volta da aquisição de conhecimento através das diversas linguagens e sentidos ainda levará um tempo para formar parte do nosso dia-a-dia. Que dizer do que não percebemos com os sentidos físicos, mas através do que chamamos intuição?
Foto: doutorado do educador Nick Sousanis
Essas verdades criadas estão impregnadas em todos os aspectos da nossa vida, de forma que nos tornamos cegos diante do universo complexo que existe diante de nós.
Especialistas na área da lingüística e da neurologia mostraram que as diferentes estruturas das línguas desenvolvem diferentes regiões cerebrais. Esse desenvolvimento permite a certos povos perceberem coisas que outros não conseguem. Os aborígenes australianos, por exemplo, conseguiam perceber uma comunicação entre os seres do planeta que nós não percebemos. Eles conheciam, sem ter nenhum equipamento científico para isso, os campos eletromagnéticos do planeta. Conheciam energias e vibrações as quais só tomamos conhecimento através de equipamentos e medidores.
Mas o nosso mundo não comporta mais a nossa cegueira. Não é mais possível fingir que está tudo bem e continuarmos agindo de acordo com o que enxergamos quando nosso sistema ecológico sucumbe diante de nossos olhos, quando nossos irmãos sofrem de fome e uma imensa carência de amor, quando a população mundial está, em sua grande maioria, sofrendo com a depressão, o excesso de peso, a insatisfação, o sentimento de incompletude e assim por diante. É comum vermos pessoas sentindo-se sozinhas em meio a milhões de pessoas que as cercam.
É preciso despertar! E podemos começar criando uma atitude de questionamento. Cada ato que fizermos, cada coisa que aparecer em nosso caminho, em tudo o que dedicarmos nosso tempo e energia, precisamos nos perguntar: que conseqüências isso trará na minha vida? Na vida das pessoas que me cercam? Na saúde do planeta? Isso satisfaz minhas necessidades mais profundas? Eu preciso fazer isso desta forma? É possível fazer de forma diferente?
O mundo precisa ser reinventado e somos os responsáveis, como seres que guiam o destino do planeta, pela desconstrução de nossas crenças, de nossas atitudes, de nossa maneira de interpretar a vida. Busquemos antes o que satisfaz a alma e que nos permita contribuir para a construção de um mundo melhor e mais feliz, de um planeta que nos inclua como heróis, não como vilões de nossa própria estória.